12.9.11

Antilla, 2011

42 fotografias digitais laminadas, sobre painéis de madeira
500 cm ∅
(50 cm x 75 cm cada painel)
Edição única + PA
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8a Bienal do Mercosul, Ensaios de Geopoéticas, 2011, Porto Alegre.
Foto: Cristiano Sant'Anna / indicefoto.com



Nas três imagens anteriores, Antilla na minha exposição individual símile-fac, 2012, Galeria Vermelho, São Paulo. A primeira imagem é de Rafael Cañas. Abaixo, a obra na 8a Bienal do Mercosul.

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Fiz este trabalho para a 8ª Bienal do Mercosul, Ensaios de Geopoética. Você pode ler o texto do catálogo da mostra, clicando aqui.

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Em 1978, o Instituto Cubano de Geodesia y Cartografia editou o Atlas de Cuba, em comemoração ao “XX Aniversario del Triunfo de la Revolución Cubana”. Esta edição tem um assumido teor político-ideológico ao enaltecer estatísticas que traduzem o sucesso da revolução, e é um exemplo claro de que a cartografia não é uma representação neutra. O atlas possui 97 mapas distribuídos em cinco partes: Recursos Naturais; Economia; População e Cultura; História; Geografia Geral. O projeto gráfico desta edição, com cores e desenhos extremamente sedutores ao olhar, parece ser uma forma de convencer, também esteticamente, a respeito do sucesso e otimismo do país sob o regime socialista.

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Escolhi no Atlas de Cuba a cidade de Antilla, com pouco mais de 12 mil habitantes, localizada ao leste da ilha. Como todo mapa evidencia hierarquias (a Inglaterra no centro do Mapa Mundi é o clássico exemplo), escolhi uma região de Cuba pouco importante, nada turística, onde provavelmente nunca irei e que provavelmente pouca gente irá. Para mim, os mapas e os atlas têm essa característica: são um acúmulo de lugares para onde jamais irei.


Fotografei a região onde se localiza Antilla em 42 diferentes mapas. A soma das imagens traça um voo circular sobre a região, como um voo de reconhecimento. O ângulo e o uso do foco simulam o ponto de vista de alguém que fotografa da janela de um avião, tratando cada mapa como uma paisagem panorâmica. Imagens aéreas têm um distanciamento semelhante ao da cartografia em relação à paisagem: quem vê um mapa não estabelece uma experiência direta com a região representada, assim como quem sobrevoa um lugar.

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Cada um dos 42 mapas representa um tema, que vai desde o tipo de solo ou indústria química, até fatos históricos da colonização e da revolução. Porém, nas fotografias não são reproduzidas as legendas que explicam as cores, os desenhos, os grafismos e os símbolos cartográficos. É indicado apenas o título do mapa, revelando seu tema. Sem os códigos que o traduzem, o mapa passa a ser uma massa de formas, cores e visualidade, como uma paisagem real. A leitura de todos os títulos, pelo observador, dá a ideia de nação pretendida pelo Estado; mas a falta de legendas faz da representação gráfica desta mesma ideia de nação, uma paisagem sem significados além de cores, formas e alguns símbolos identificáveis.

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A instalação dos painéis é no chão, o que reforça o ângulo aéreo das imagens e cria ainda um estranhamento, já que mapas devem estar na parede, embora apresentem sempre uma visão aérea, não frontal. A configuração circular é análoga ao sobrevoo também circular que as fotografias dos mapas simulam sobre a região, sugerindo que o observador, ao deslocar-se ao redor, repita este sobrevoo. O círculo fragmentado refere-se também às obras clássicas da land art, onde desenhos eram feitos com fragmentos naturais da paisagem: pedras, gravetos, terra etc. Já em Antilla, a instalação é formada pelo uso de fragmentos de representações de paisagem: os mapas.


A seguir, detalhes de Antilla.

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