18.8.20

Relógio, 2020

25 x 25 cm (políptico de 4 peças a ser instaladas, cada uma, em paredes ou salas/cômodos diferentes)
impressão digital sobre acrílico 3 mm de espessura
edição de 3 + p.a.
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Em Relógio, os sufixos que flexionam a conjugação dos verbos 'madrugar', 'amanhecer', 'entardecer' e 'anoitecer' circulam seus radicais. Ao redor do círculo, orbitam palavras-partículas que, ao acionar um dos sufixos, traçam uma reta, uma espécie de ponteiro virtual que as liga ao radical do centro, formando sentido: "papos madrugavam"; "nós amanhecíamos / se amanhecesse"; "em breve entardeceríamos"; "para que anoitecêssemos". 

O trabalho compõe um possível diagrama do modo mecânico como funciona a linguagem engatada à pessoa do discurso e à temporalidade. O tempo é ilustrado nos quatro verbos que pontuam o ciclo das 24 horas e que são impessoais, revelando um desvio metafórico da obra. Há também um desvio em "nós amanhecíamos / se amanhecesse", já que se fosse uma frase discursiva, e não um diagrama, o correto seria "nós amanheceríamos, se amanhecesse". O desvio duvida da concordância sintática da frase como única forma de representar o tempo.

O políptico deve ser instalado sempre com as quatro peças separadas, em diferentes paredes ou salas/cômodos, para que tempo e espaço também componham a fruição da obra.