impressão digital sobre acrílico 3 mm de espessura
edição de 3 + p.a.
Em Relógio, os sufixos que flexionam a conjugação dos verbos 'madrugar', 'amanhecer', 'entardecer' e 'anoitecer' circulam seus radicais. Ao redor do círculo, orbitam palavras-partículas que, ao acionar um dos sufixos, traçam uma reta, uma espécie de ponteiro virtual que as liga ao radical do centro, formando sentido: "papos madrugavam"; "nós amanhecíamos / se amanhecesse"; "em breve entardeceríamos"; "para que anoitecêssemos".
O trabalho compõe um possível diagrama do modo mecânico como funciona a linguagem engatada à pessoa do discurso e à temporalidade. O tempo é ilustrado nos quatro verbos que pontuam o ciclo das 24 horas e que são impessoais, revelando um desvio metafórico da obra. Há também um desvio em "nós amanhecíamos / se amanhecesse", já que se fosse uma frase discursiva, e não um diagrama, o correto seria "nós amanheceríamos, se amanhecesse". O desvio duvida da concordância sintática da frase como única forma de representar o tempo.
O políptico deve ser instalado sempre com as quatro peças separadas, em diferentes paredes ou salas/cômodos, para que tempo e espaço também componham a fruição da obra.