1.10.10

Longe Daqui, Aqui Mesmo, 2010

em parceria com Marilá Dardot

colaboração e execução de Fernando Romano Arquitetura.

29a. Bienal de São Paulo

Há sempre um copo de mar para um homem navegar


(o texto a seguir possui links, em cor diferenciada, para acesso a mais imagens)



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A biblioteca Longe Daqui, Aqui Mesmo é um dos terreiros da 29a. Bienal de São Paulo que, dentro do projeto curatorial, são espaços de pausa, encontros e trocas, cada um com uma vocação. Este título foi apropriado de uma obra de Antonio Bivar.

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Para o espaço da biblioteca, eu e Marilá Dardot pensamos na ideia de um lugar inacabado, sempre em construção mas que, mesmo não concluído, já é acolhedor. Sua relação com o visitante é, sobretudo, de descoberta e aventura, já que a configuração desse espaço é a de uma espécie de labirinto ou vila caótica, com cômodos, passagens e corredores onde perder-se é necessário para fazer o percurso. Isso tudo, para nós, é análogo à nossa relação pessoal com a leitura, com a literatura e com o mundo dos livros.

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Maquete 3D (por Fernando Romano Arquitetura)..

A ideia de uma construção em processo levou à escolha de paredes sem reboco (às vezes incompletas, sendo erguidas) por toda a construção, e também de vãos abertos (sem portas) na parte externa do espaço. Ao entrar por esses vãos abertos, o visitante se perde em cômodos e corredores, alguns deles revestidos por azulejos e papéis de parede, e outros com tapetes forrando o chão, tudo feito a partir de imagens de livros. Ligando um cômodo a outro, há portas que também estampam capas de livros. Portas, tapetes, azulejos e papéis de parede compõem essa ideia de um lugar inacabado porém perfeitamente habitável e habitado, onde livros são um elemento de construção tanto quanto os tijolos.

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A escolha dos livros que constroem esta casa-biblioteca partiu de nosso gosto pessoal e de algumas homenagens como, por exemplo, a sala revestida por um papel de parede com a capa da revista Navilouca, ao lado de uma sala com azulejos feitos a partir da capa de Os Últimos Dias de Paupéria, de Torquato Neto que, junto a Wally Salomão, teve a ideia de editar esta revista nos anos 70.

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Este labirinto-casa feito para o “leitor” se perder circula toda a área da biblioteca. Esta, fica no centro da construção, e é completa e acabada, criando uma surpresa ao visitante que, acostumado aos tijolos e à incompletude que acaba de percorrer, chega a um espaço finalizado que abriga exatamente o que não está acabado: a coleção de livros.

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A biblioteca do Longe Daqui, Aqui Mesmo é formada por três coleções: 1. a Confrar’ilha de Leitura, uma indicação, feita por mim e por Marilá Dardot, de títulos de literatura contemporânea; 2. fizemos uma pergunta a todos os artistas da 29a. Bienal: com que livro você construiria sua casa?, e os títulos indicados por cada artista foram adquiridos e formam a segunda coleção; 3. por fim, fizemos um convite aberto, divulgado em redes sociais (facebook e twitter) e também em variados maillings, para que todos que tivessem um livro ou publicação de artista, e quisessem contribuir, enviassem-nos um exemplar que faria parte desta coleção, sem seleção alguma.

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Convite digital com a pergunta feita aos artistas da 29a. Bienal.
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Convite digital usado para divulgar a formação do acervo.
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A formação da coleção de livros do Longe Daqui, Aqui Mesmo se configurou sob a surpresa, a colaboração e a cooperação do outro. A Confrar’ilha de Leitura foi nosso alicerce: indicamos e sabíamos quais e quantos livros eram. As respostas dos artistas da 29a. Bienal também eram um terreno um pouco demarcado, já que era sabido, ao menos, o número de participantes da mostra. Já para o convite aberto, contávamos com a surpresa: recebemos em torno de 450 livros do mundo todo ao longo de dois meses antes da exposição abrir e, depois, também durante a 29a. Bienal.

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Ao fim da mostra, toda a coleção de livros do Longe Daqui, Aqui Mesmo, vai para o Arquivo Histório Wanda Svevo, da própria Fundação Bienal de São Paulo, que é aberto ao público para consulta.


São Paulo, setembro de 2010

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