6.8.12

Le Mer, 2012

impressão digital sobre papel manteiga, serigrafia sobre plástico
16 x 12 cm (fechado); 42 x 60 cm (aberto)
tiragem ilimitada
1ª edição 500 exemplares, editora par(ent)esis, Florianópolis 
Le Mer faz parte do projeto A2, da editora par(ent)esis de Regina Melim, que convida artistas a fazerem um trabalho nesta dimensão. Em Le Mer, me apropriei do trecho de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, em que Riobaldo olha para o corpo nu e morto de Diadorim e descobre que ela era mulher. 

A cada frase em português, intercalei sua correspondente da versão francesa, que se chama Diadorim. E, a cada frase em francês, aumentei progressivamente a distância entre as letras que formam as palavras. 

A versão francesa traduz o Grande Sertão de forma literal, sem se aventurar na tentativa de recriar o idioma, ou misturar o "idioma oficial" com uma fala regionalista, como fez Guimarães. Por exemplo, "os cabelos com marcas de duráveis" é traduzido como "nos cabelos, a marca da permanência"; "Uivei!" como "Gritei!"; ou "os olhos dele ficados para a gente ver" como simplesmente "seus olhos ficaram abertos para nos ver". Pela pobreza da tradução em relação ao original, usei a metáfora da distância no progressivo aumento do espaço entre as letras, conforme intercalo as frases em francês. Esta configuração do texto resultou numa imagem que lembra o mar, reforçada quando o trabalho é aberto sobre um plano horizontal e suas dobras criam um relevo semelhante à topografia das ondas.   

O título também é uma referência à tradução. Nele, há um erro de francês: neste idioma, o mar é feminino, e o correto seria "La Mer". Porém, ao traduzir o título com o artigo no gênero errado, "Le Mer", chega-se em português a "A Mar", ou seja, o verbo amar, que é o tema central do Grande Sertão: Veredas: um amar que não se concretiza por um problema de gênero.