6.3.20

Loop, 2020

acrílico preto 3 mm cortado a laser
dimensões variáveis
edição de cada obra da série, 3 + p.a.

(clique sobre as imagens para aumenta-las)

Na série Loop, chapas de acrílico preto recortadas a laser mimetizam letreiros de led nos quais a ilusão de luzes se dá pelas letras vazadas, revelando o branco da parede. As obras simulam um momento em que a passagem dos textos estaria estancada, como em um registro fotográfico, muitas vezes aparecendo o fim e o início dos enunciados, ou seja, o instante do loop, a "emenda". A simulação fotográfica desse instante edita e recria os textos em cada uma das chapas que, juntas, constroem uma espécie de poema polifônico desconexo do ponto de vista sintático mas que, ao ser lido, cria sentido mesmo de forma fragmentada e não linear. 



Loop #1
92 x 80 cm (8 x 80 cm cada chapa)

Os oito textos de Loop #1 são retirados de oito obras de arte: “Ceci n’est pas une pipe”, pintura de René Magritte; “A pureza é um mito”, escrito em um penetrável de Hélio Oiticica; “Art is a guaranty of sanity”, desenho de Louise Bourgeois; “Atencion: la percepcion requiere participacion”, placas e adesivos de Antoni Muntadas; “Protect me from what I want”, letreiro de Jenny Holzer; “Procuro-me”, cartaz de Lenora de Barros; “I will not make any more boring art”, vídeo de John Baldessari e “Use, é lindo, eu garanto”, em um desenho de Leonilson.





Loop #2
116 x 100 cm (8 x 100 cm cada chapa)

Em uma referência ao ‘instante fotográfico’ que há na série, em Loop #2 os textos das dez placas de acrílico são os títulos das fotografias da série em que Nan Goldin, nos anos 1990, retratou a relação do casal Gilles e Gotscho: “Gilles and Gotscho on the metro”; “Gilles and Gotscho in my hotel room”; “Gilles and Gotscho at home”; “Gilles and Gotscho embracing”; “Gotscho at the kitchen table”; “The hallway of Gilles’ hospital”; “Gilles in his hospital bed”; “Gotscho in the movie theater”; “Gilles’ arm”; “Gotscho kissing Gilles”.



Loop #3
116 x 80 cm (8 x 80 cm cada chapa)

Loop #3 intercala as frases “ver com olhos livres” e “a poesia existe nos fatos”, do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de 1924, e “a alegria é a prova dos nove”, do Manifesto Antropófago, de 1928, de Oswald de Andrade.




Loop #4
104 x 200 cm (8 x 100 cm cada chapa)

Loop #4 é composto pela frase “Dear mujeres de color, companions in writing”, que introduz o texto “Speaking in tongues: a letter to 3rd world women writers”, de Gloria Anzaldúa, e por “I lack imagination you say / No. I Iack language.”, dois primeiros versos de “It’s the Poverty”, poema de Cherríe Moraga que Anzaldúa transcreve no mesmo texto.





Loop #5
12 x 325 cm (12 x 50 cm cada chapa)

Os títulos das obras O Perigoso (1992), de Leonilson, e corpobra (1970), de Antonio Manuel, compõem Loop #5. 



Loop #6
12 x 415 cm (12 x 100 cm cada chapa)

Em Loop # 6, "À l'ami qui ne m'a pas sauvé la vie", título do livro de Hervé Guibert publicado em 1990, é intercalado em sua versão em inglês "To the friend who did not save my life", em espanhol "Al amigo que no me salvó la vida", no original francês e em português "Para o amigo que não me salvou a vida", línguas nas quais há tradução da obra e que são os quatro idiomas principais da colonização do continente americano.  




Loop #7
12 x 415 cm (12 x 140 cm; 12 x 54 cm; 12 x 140 cm)


"Mesmo proibido olhai por nós", frase histórica do desfile da Beija-Flor de 1989, e "Canalha", ícone da história da arte brasileira na obra "Viva Maria!" (1966) de Waldemar Cordeiro, intercalam-se em Loop #7.




Loop #8
145 x 100 cm (10 x 100 cm cada chapa)

Loop #8 recombina em sequência uma fala do personagem Arandir, com suas respectivas rúbricas, da peça O Beijo no Asfalto (1961), de Nelson Rodrigues: "(repetindo para si mesmo) - Nunca mais. Quer dizer que. Me chamam de assassino e. (som súbita ira) Eu sei o que "eles" querem, esses cretinos! (bate no peito com a mão aberta) Querem que eu duvide de mim mesmo! Querem que eu duvide de um beijo que. (baixo e atônito, para a cunhada) Eu não dormi, Dália, não dormi. Passei a noite em claro! Vi amanhecer. (com fundo sentimento) Só pensando no beijo do asfalto! (com mais violência) Perguntei a mim mesmo, a mim, mil vezes: - se entrasse aqui, agora, um homem. Um homem. E. (numa espécie de uivo) Não! Nunca! Eu não beijaria na boca um homem que. (Arandir passa as costas da mão na própria boca, com um nojo feroz) Eu não beijaria um homem que não estivesse morrendo! Morrendo aos meus pés! Beijei porque! Alguém morria! "Eles"não percebem que alguém morria?"




Loop #9
85 x 90 cm (10 x 90 cm cada chapa)


Loop #9 baseia-se no post que Chelsea Manning fez no Twitter no dia 31 de dezembro de 2019, no qual faz um balanço de sua década: "breakdown of my decade (2010-2019): - 77.76% in jail / - 11.05% in solitary confinement / - 51.23% fighting for gender affirming care / - 100.00% being true to myself no matter what / - 0.00% backing down"



Loop #10
85 x 213 cm (cada placa: 10 x 90,6 cm / 10 x 83,85 cm / 10 x 71,60 cm / 10 x 47,65 cm / 10 x 71,45 cm / 10 x 88,25 cm / 10 x 94,49 cm / 10 x 50,30 cm /10 x 52,90 cm / 10 x 119,60 cm /10 x 68,05 cm / 10 x 34,75 cm / 62,20)


"It petrifies the will. / These are the isolate, slow faults / That kill, that kill, that kill.", do poema "Elm, for Ruth Fainlight", de Sylvia Plath e "Um bom menino perdeu-se um dia, entre a cozinha e o corredor", da música "Deus vos salve a casa santa", de Torquato Neto, compõem Loop # 10. 



Loop #11
138 x 70 cm (chapas de 20 x 70 cm e de 12 x 70 cm) 


Palavras e frases de três monotipias de Mira Shendell são recombinadas em Loop # 11: ZEIT, "noite foi o primeiro DIA" e "eternidade mundo MUNDO MUNDO mundo mundo mundo mundo mundo mundo mundo mundo mundo mundo".