O Sebo Encanto Radical é um site specific, ou um sebo-parasita, que instalei na Banca Tijuana, da Galeria Vermelho. Inaugurado em janeiro de 2017, a primeira coleção comercializada pelo sebo é a que lhe dá nome: Encanto Radical, série de minibiografias da Editora Brasiliense iniciada na década de 1980. A segunda coleção do sebo é uma seleção com minhas capas prediletas do Círculo do Livro, editora-clube-de-leitores que a partir da década de 1970 editou de best sellers à chamada “alta” literatura. Os exemplares do Círculo do Livro não eram vendidos em livrarias, a divulgação era feita por uma revista periódica que se recebia ao entrar para o clube – por indicação de alguém que já fazia parte dele – e os pedidos eram feitos por correio.
Entre os anos 1970 e 1980, o Círculo do Livro teve das melhores capas de literatura que já vi / li / tive – dentre elas, Macunaíma, de Mário de Andrade, e Bestiário, de Júlio Cortázar, foram as edições que tive na adolescência. O Círculo do Livro era extremamente popular e tinha centenas de títulos a preço baixíssimo. Mas esse apelo popular não impediu que algum designer infiltrado na editora ousasse exercícios sofisticados de design em meio a uma enxurrada de coisa ruim – dê um google em "círculo do livro" e você verá a outra face da coisa: a esmagadora maioria dos títulos da editora tinha capas tenebrosas.
Fiz um recorte das minhas capas prediletas do Círculo do Livro para o Sebo Encanto Radical. Nesses exemplares, além da irresistível estética setentista, me chama atenção a capa dura revestida por uma espécie de papel telado impresso, certas ousadias de desenho – na verdade, um desenho gráfico muito simples, que parece partir sempre da ilustração – e o modo como a cor é tratada exatamente como COR, não quadricromia, numa impressão que dá às capas apelo visual de gravura – meus amigos designers, por favor, me digam se nessa época já existia pantone. Eu, que DETESTO capa dura – livro wannabe – me rendo: poucas vezes a capa dura foi tão bem usada como nesses títulos do Círculo do Livro.
Como leio na rua, em filas, tirando pressão, em salas de espera ou no transporte público, fico bastante satisfeito quando posso, com orgulho, mostrar que estou lendo determinado livro e ainda ostentar sua bela capa. É muito frustrante ter vergonha de uma capa. Designers gráficos deveriam pensar que capa não é isca para consumidor em site de livraria, mas algo que compõe a indumentária do leitor, um brinco, uma maquiagem a mais, ou apenas um objeto de cena. Os títulos do Círculo do Livro que passam a fazer parte do Sebo Encanto Radical são minha singela homenagem a capas que embelezam a cena de alguém que lê – que, em si, já é sempre uma bela cena.
Sim, sim, o Sebo Encanto Radical podia optar por uma pesquisa em torno do, digamos, "alto design gráfico" dos 1970. Mas, nessas horas, meu pedigree vira-lata fala mais alto. Abaixo, as capas/livros (se quiser que aumentem, clique sobre as imagens):
Seguindo a marca registrada do Sebo Encanto Radical, todos os exemplares da Coleção Círculo do Livro têm duas gravuras em alto relevo: um texto, logo nas primeiras páginas, e a traça de livro que é o logo do sebo, em alguma página aleatória do miolo - como nas imagens abaixo.
E, para fazer jus ao texto da marca em relevo da coleção, todos os exemplares são vendidos com um bilhete de metrô da cidade de São Paulo, válido para uma viagem.