Farsa e Tragédia, terceira coleção do Sebo Encanto Radical,
é formada por livros que documentam fatos ou períodos pontuais da história que
– infelizmente – são recorrentes e cíclicos, muitas vezes estruturais. Daí o título da coleção, referência à frase de Karl Marx: "a história se repete a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa".
O primeiro título da coleção é o livro Brasil: Nunca Mais, lançado em 1985. Relato sobre o terrorismo de Estado da ditadura civil-empresarial-militar instaurada no Brasil com o golpe de 1964, o livro é uma espécie de resumo, ou reportagem, do Projeto de Pesquisa: Brasil Nunca Mais, que de 1979 a 1985 pesquisou processos de cunho político que passaram pela Justiça Militar entre 1964-79, em um total de mais de um milhão de páginas.
O primeiro título da coleção é o livro Brasil: Nunca Mais, lançado em 1985. Relato sobre o terrorismo de Estado da ditadura civil-empresarial-militar instaurada no Brasil com o golpe de 1964, o livro é uma espécie de resumo, ou reportagem, do Projeto de Pesquisa: Brasil Nunca Mais, que de 1979 a 1985 pesquisou processos de cunho político que passaram pela Justiça Militar entre 1964-79, em um total de mais de um milhão de páginas.
A tortura é o tema central de Brasil: Nunca Mais. O livro
inicia com uma série de trechos de depoimentos através dos quais fica clara a
máquina estatal de tortura implantada pelo regime, que contou com fatores como
a conivência do Poder Judiciário que encobria e legalizava o terrorismo de Estado, ou como o
sadismo dos agentes da tortura, de policiais, carcereiros e delegados a
médicos e enfermeiros, que controlavam cientificamente a tortura e assinavam
laudos falsos – como no já clássico caso do “suicídio” de Vladimir Herzog. Distribuídos
pelos capítulos, há ainda: uma breve análise mostrando o quanto o autoritarismo
militar é algo recorrente na história do Brasil, envolto sempre pela eterna
subserviência aos EUA na geopolítica do continente americano; um mapeamento dos movimentos de resistência e guerrilha, oriundos quase todos de
dissidências do PCB e do PC do B; um levantamento das atividades mais
perseguidas pelo terrorismo de Estado, como militares legalistas (logo após o golpe), jornalistas,
estudantes e sindicalistas; relatos sobre desaparecidos políticos que, em
depoimentos à Justiça Militar, são citados por outros torturados que afirmam tê-los
visto pela última vez nos lugares de tortura; etc.
Em tempos em que novamente nossas oligarquias econômicas reafirmam sua tendência golpista e autoritária, como no golpe de estado
parlamentar-jurídico-midiático de 2016 contra a presidenta Dilma Roussef,
(re)ler Brasil: Nunca Mais ajuda a relembrar o quanto o Brasil nunca foi uma
democracia real, no máximo teve períodos de democracia formal. Aliás, ajuda a concluir que no Brasil "democracia" é uma palavra branca e de classe média e alta, pois abordagens arbitrárias; proibições sem fundamento legal; negação de defesa; assassinato em massa, tortura e desaparecimento de pessoas pela Polícia Militar – tão comuns e oficializados nos anos de ditadura e relatados em Brasil: Nunca Mais – continuam acontecendo no país, de forma perversa e naturalizada, nas classes pobres e sobretudo com a população negra.
No Sebo Encanto Radical, os exemplares de Brasil: Nunca Mais vêm com a gravura da coleção Farsa e Tragédia já na folha de rosto (imagens acima) e ainda com a marca do sebo, a traça de livro, em uma página interna. Instalada no miolo, há ainda uma brochura com um texto – do meu livro Não, editado pela Ikrek – que fala sobre a proibição de toda e qualquer atividade tipográfica, de ter e de editar livros, no Brasil
colônia, proibição revogada apenas com a fuga da Família Real para Rio de Janeiro, em
1808 – revogação essa mais para atender uma demanda de impressos burocráticos, já que a administração do império português havia se instalado no país, do que por demandas intelectuais ou se circulação de informação. Este texto é referenciado, em notas de rodapé, pelos artigos do decreto
presidencial que em 1970 instaurou a censura no país, colocando assim em
perspectiva o autoritarismo da ditadura civil-empresarial-militar pós 1964 com o da nossa
colonização, em um panorama que mostra o quanto o autoritarismo – entre outras
patologias ético-morais – é estrutural no país.
A segundo título da coleção Farsa e Tragédia é o livro Os Cartazes desta História, editado pelo Instituto Vladimir Herzog. Os exemplares, adquiridos em sebos, são impressos com os relevos do Sebo e da coleção Farsa e Tragédia, e são vendidos com um poster editado pelo Sebo Encanto Radical onde há, em ambos os lados, uma colagem de cartazes de rua - pesquisados a partir das jornadas de junho de 2013 - sendo um lado somente com os cartazes de manifestações de direita e, do outro, de esquerda.